Tratamento Especial, por Leonardo Rodarte

Acordo em meio a gritos e barulho de helicópteros. Ainda era madrugada quando a Tropa de Choque da PM pôs em marcha a sua operação de reintegração de posse do prédio ocupado da reitoria da USP. O sol sequer se esboçava no horizonte mas o meu quarto no Conjunto Residencial da USP (CRUSP) já se encontrava completamente iluminado. Ao abrir a janela, me deparo com um helicóptero da PM que, sobrevoando a área próxima aos prédios de moradia universitária, disparava um forte rojão de luz em minha direção. Ainda um pouco desnorteado, localizo outros dois, nesse primeiro momento, para depois descobrir por relatos de outros moradores que, ao total, quatro dessas máquinas haviam sido deslocadas para a operação em curso.

Ao barulho dos helicópteros e das pessoas gritando, logo se somariam os estalos causados por duas bombas de gás lacrimogênio lançadas no principal corredor de ligação entre os blocos de moradia. Uma terceira bomba explodiria minutos depois e uma nova onda de gritos de pavor ecoaria em meio aos moradores em seus apartamentos e aqueles que haviam descido para saber o que estava acontecendo.  Vídeos postados na internet conseguem demonstrar a grande névoa que se alastrou por todo o CRUSP que, junto à escuridão do dia nem amanhecera, impedia a visão e nos contaminavam os olhos.

Eu moro no primeiro andar de um dos blocos e a fumaça já havia invadido o meu apartamento pela janela da sala, permanentemente aberta no verão. Situação ainda pior se observava no térreo de um dos blocos, o que abriga as estudantes mães-solteiras e suas crianças. Cerca de 60 crianças que vivem atualmente nas residências estudantis foram, naquela manhã de terça-feira, despertadas ao som de bombas e helicópteros. O mais alarmante é o fato de que a fumaça lançada pela tropa de choque ao alcançar o meu apartamento no primeiro andar já havia se alastrado pelo térreo, onde moram as crianças.

Ainda um pouco confuso, subo pelas escadas de incêndio ao sexto andar do prédio de onde eu consigo observar o que estava acontecendo: centenas de policias obstruíam todas as saídas de acesso ao CRUSP e, em algumas delas, com a cavalaria. Uma moradora gritava insistentemente “Choque no CRUSP”, na tentativa de acordar os demais moradores, como se todos ali já não estivéssemos despertos. Estávamos cercados.

Como muitos outros, desço ao corredor de ligação entre os blocos e vou em direção à principal saída de acesso à reitoria, próxima ao bandejão central. Alguns estudantes já lá estava e buscavam forçar passagem por entre a tropa de choque quando um dos policiais dispara. Outros dois seguem o seu exemplo e também disparam balas de borracha, não tendo por alvo os estudantes, ao que me pareceu, mas o chão onde demarcavam a linha até onde os moradores podiam chegar. Isso não impediu, no entanto, de que uma moradora fosse atingida nas costas. Nesse instante, um coronel ao fundo ordena aos policiais que parem de atirar. As suas palavras foram “Aqui não! Não reajam, não atirem. Estamos na USP”.

Pelas palavras do coronel pareceria que estávamos tendo um tratamento especial por parte da tropa de choque, que tem por conduta rotineira a repressão pela violência e o desprezo pela vida humana, confirmado pelos altos índices de assassinatos cometidos pelas tropas policiais em serviço no Brasil, dentre os piores do mundo. Mas se esse era o tratamento especial das tropas treinadas em direitos humanos, segundo atestam as autoridades, como justificar as bombas dentro das moradias estudantis atingindo até mesmo crianças, e o cerco que armaram entorno aos prédios impedindo o ir-e-vir livre dos moradores e trabalhadores, os que chegavam para trabalhar no restaurante central e os que, como estudante, cumprem a dupla jornada de trabalho e estudos, e que logo se dirigiriam aos pontos de ônibus?

A questão aqui não é julgar quão benevolentes foram ou não as tropas de choque, pois para nós, moradores, fica patente a violação de muitos dos nossos direitos, enquanto estudantes e moradores, ou mesmo como cidadãos. O ponto com que se preocupar, no meu entender, é como os mesmos policiais podem vir a público dizendo que a operação de reintegração de pose foi pacífica e sem uso de violência quando nossos olhos ainda ardem sob o efeito dos gases que nos atingiram dentro do nossos apartamentos. As pessoas que tossiam, com maior atenção para as crianças, ou os dois moradores do CRUSP detidos junto à operação por tentarem romper o cordão de isolamento imposto pelos policiais na área que corresponderia ao quintal da nossa casa, certamente não podem corroborar com o que dizem as autoridades policiais.

Aceitar que essa foi uma operação “pacífica” da PM, o “aqui não”, nos dizeres dos coronel, nos leva fatalmente a considerar a existência de um outro contexto, onde o atributo “pacífico” não pode ser atribuído nem mesmo pelas forças policias. Um cenário assustador onde impera o “aqui sim” oficial.

Leonardo de Cássio Rodarte é estudante de Relações Internacionais e morador do CRUSP. 

32 pensamentos sobre “Tratamento Especial, por Leonardo Rodarte

  1. Léo, obrigado por compartilhar depoimentos importantes para esclarecer a escuridão de comentários sem conhecimento de causa e preconceituosos que rondam a grande mídia e parte da população que repete o mesmo fenômeno da Europa: a classe média cresce da mesma proporção que seu conservadorismo, medo e controle.

  2. O texto de vcs é muito bom, verdadeiro. Espero que vcs consigam “lutar” por uma política mais justa na universidade, bem como por melhores condições de ensino e justiça, inclusive, resolvendo as questões de ordem. A USP é um um bem publico. Todavia houve despeito e desrespeito da polícia e dos alunos… mas é prudente que vcs não deixem de considerar a contaminação de partidos politicos por pessoas que não fazem parte do mundo estudantil, infelizmente a política às vezes é podre, porém necessária. Boa sorte ! Cláudia Guida

  3. Caro morador, pode ter absoluta certeza que desocupação foi pacífica, embora uma parte do prédio em que estava tenha sido atingido por armas não-letais de controle de distúrbios. Em que pese seu espanto perante uma suposta violação de direitos (vez que não houve, haja vista o cumprimento de uma ordem judicial), recomenda-se que adquira mais conhecimento universal dentro sobre como conflitos de interesse costumam serem resolvidos mundo a fora. Ocorre que o “mundinho perfeito” de vocês foi invadido pela realidade de uma ação de Estado, algo que acontece a toda hora na periferia de uma forma ainda mais truculenta. Tenha certeza: a desocupação foi pacífica, os meios adotados os reconhecidos internacionalmente. Não houve baixas de nenhum dos lados.

    • Observador, você estava lá? Se não, da onde vem essa certeza?

      Fé?

      Ou você anda dando crédito ao seu jornal favorito a ponto de colocar sua mão no fogo por ele?

      Ai ai ai… Brasileiro é um bixo ingênuo…

  4. Leo, vc viveu tudo isso relatado e me parece que foi tenso. Mas mes diga: Você acha correto estudantes fumarem maconha dentro da USP? E, por extensão, acha correto que, em nome do “território livre” que é a USP, estudantes se achem no “direito” de fazer uso de drogas lá dentro? Se vc defende o “território livre” da USP, talvez concorde com a idéia de mandar prá lá todo aquele povo infeliz da Cracolândia para ficarem consumindo crack sem serem molestados pela PM, junto com os estudantes! Vc já vê aí, que o problema é bem maior do que pensava, né? Vc mora na CRUSP mantida pelo Estado e convive com muitos estudantes, poderia dizer se é correto os estudantes depredarem as instalações de sua própria universidade, para defenderem o direito de não quererem a PM dentro da USP? Leo, de fato, levar cacetada, bomba de gás e tiro de bala de borracha dói muito, mas o que vc acha que a PM deveria fazer, uma vez que tem o DEVER CONSTITUCIONAL de defender a LEI, a ORDEM e JUSTIÇA? Léo, vc estuda na maior universidade da América Latina e uma das maiores do mundo, DE GRAÇA, pois é o Estado quem paga, aliás, nós é que pagamos, tem a chance que muitos não tiveram e vem sugerir no seu texto que a PM foi violenta com vcs? Depois de tanta enrolação e “negociações”?O que é Direito pra vc? Só tem um lado? E o Dever? Para onde a gente manda o dever que todos nós, inclusive os que fumam maconha, tem de cumprir a Lei? Estude bastante Relações Internacionais, Léo, mas estude Direito também e entenda uma lição: Não tem sentido fazer o errado, quando a gente sabe o que é o certo! Repasse para os “revoltosos”!

  5. Péssimo SEU TEXTO! Por isso que o Brasil não evolui! Quem tá na chuva é pra se molhar bonitão! Só pq é da USP acha que pode bater de frente com a polícia. Se vc estudou um pouco, sabe mto bem o que é autoridade. E Estado sem autoridade não é nada. Vcs foram bem tratados até demaiss, mtooo mesmo.

    • e toda essa raiva é por que você não passou na FUVEST ou por que é mais um a achar que Reinaldo Azevedo é representante da verdade?

      “Quem tá na chuva é pra se molhar bonitão! “???
      Ta muito certo, porque estar dormindo em seu apartamento deve ser muito ofensivo à ordem, não é mesmo?
      Você também deve achar que moradores de favelas ocupadas pela PM (em seus belos projetos de pacificação) estão na chuva pra se molhar, e que nesse contexto os policiais tem o direito de disparar em quem estiver no caminho para garantir a ordem e o progresso de nossa nação.
      Lembre-se que você també é “defendido” por essa PM, em algum momento você pode ser a pessoa que atrapalha o caminho.

      “Na primeira noite eles se aproximam
      e colhem uma flor do nosso jardim.
      E não dizemos nada.

      Na segunda noite, já não se escondem,
      pisam as flores, matam nosso cão.
      E não dizemos nada.

      Até que um dia, o mais frágil deles, entra
      sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
      e, conhecendo nosso medo
      arranca-nos a voz da garganta.

      E porque não dissemos nada,
      já não podemos dizer nada.”

  6. Oi! Gostei muito do seu texto, minha simpatia pelo que passaram, mas gostaria que você me dissesse se o correto é militar contra a PM como instituição, como se fossem os vilões ditadores malvados da sociedade (do jeito que esse grupo barulhento da USP vem fazendo), ou manifestar-se a favor de uma reforma consciente dentro da PM com relação ao treinamento que eles recebem, seu código de conduta, etc. Afinal, a ausência de tal grupo nessa parcela do continente americano tão dominada pela impunidade e pelo narcotráfico seria quase que consentir com início do caos total.

  7. Pobrezinho. Aposto que você nunca se incomodou com som alto, barulho de festas, beberagens etc. Nem sabia, desavisado, que a PM estava para entrar na reitoria para liberá-la da manolagem. Acordou apavoradinho, foi? Ficou com medinho, é? Faltou você narrar a “jornalista” que estava sendo “violentada” pelos PMs na entrada do Crusp, como vimoc no vídeo. Que dó deu de vocês.

  8. Um bom texto, mas é uma narrativa que carateriza os estudantes de “vítima”, querendo justificar o vandalismo que eles praticaram nos locais da Universidade, de se comportarem como bandidos com o rosto coberto e de posse de coquetéis molotov. Quebraram e destruíram equipamentos da Universidade, e devem ser expulsos para dar vaga a quem respeita e aproveita o ensino público. Antigamente os estudantes da USP brigavam com a polícia contra a Ditadura Militar. Hoje a briga é ridícula: fumar maconha no campus.

  9. Nossa, Observador, entao seu parametro se resume em “baixas”? Se morreu é importante, se nao morreu, nao? Pior ainda é achar NORMAL que as periferias sejam invadidas todos os dias por esse tipo de violência, talvez seja a hora de repensar seu conceito sobre ser humano e ter direitos humanos.

  10. Que bom. Tenho orgulho da tropa de choque que foi tirar o pessoal la.
    Mas eu sou da seguinte opinião. tira a pm la de dentro, não querem segurança no campus?? Quando morrer um, estuprarem outra, roubarem ou furtarem o carro, liga pro pessoal que quer ficar la sem a policia para ficar usando maconha, afinal eles são melhores que a policia

  11. Leonardo, parabéns pelo depoimento. Aqueles que o criticam me parecem ignorar o mais básico dos fatos: a reitoria da USP é uma coisa; o CRUSP, outra. Se a PM tinha o aval da lei para retomar o prédio da reitoria, não tinha o direito de jogar bombas de gás lacrimogêneo no CRUSP. Ou seja, os que criticam os estudantes que ocuparam a reitoria por terem feito algo contra a lei e depredado patrimônio público deveriam, pela lógica mais simples, criticar a PM pelas exatas mesmas coisas.

  12. Estou espantado com certos comentarios…deu pra perceber que tem gente que nao sabe que o CRUSP não é a reitoria.

    Como consequencia pensam que é justo isso que está no relato.
    E pior, tem gente que pensa que estudante dá USP tá recebendo um favor do Estado por estudar lá, que estuda “de graça”, e vem falar de direitos…querer mandar um estudante de RI estudar direito…

    fica evidente quem é que precisa estudar mais

    Excelente texto, está um pouco dificil encontrar relatos de quem esteve lá no dia, e é no minimo mal intencionado esse cerco ao crusp…com objetivo de impedir os estudantes de irem em direção a outros predios

    mas enfim, a policia nao pensa, só obedece…ate´ consigo imaginar o rodas, governador, autoridades policiais e responsaveis pela segurança publica planejando como seria realizada a acao

    • Caro, Hugo, com todo respeito, faço à vc as mesmas perguntas que fiz ao ao Leo. Considerando que estamos num debate e opinando sobre um problema que diz respeito à toda sociedade, peço que responda com isenção e imparcialidade. Ficar criticando por criticar não resolve o problema. A PM tinha sim que entrar lá e tirar os estudantes que estavam cometendo uma ilegalidade. Houve muita negociação e foi dado espaço para todos se manifestarem e nenhum estudante soube apresentar uma argumento que justificasse a retirada da PM da USP ou que pudesse isentar de crime os estudante que foram presos consumindo droga. Qual é o fundamento ou a tese que justifica a retirada da PM do campus, tendo em vista o recente assassinato de um estudante e outros crimes ali cometidos? Será que os estudantes revoltosos são contra o Estado Democrático de Direito? Cadê as reivindicações justas e legais que deles? Vamos tirar a PM e abrir espaço para os traficantes montarem uma boca de fumo na USP? Houve truculência e desrespeito aos Direitos Humanos? Como assim? Se todos os estudantes sabiam, de cor e salteado, que estavam cometendo uma ilegalidade e foram devidamente informados disso? Sou estudante também e não acho que esta condição me dá o direito de quebrar e pichar o patrimônio público e rasgar as leis constitucionais do meu país. Vc deve saber que fumar maconha e/ou consumir outras drogas é ilegal e, pior ainda, no “território livre da USP”, pois macula o bom nome da Instituição! Sugeri ao Leo que fosse estudar Direito pelos motivos acima e, me desculpe, acho que vc deve fazer o mesmo! Pois temos que entender exatamente, qual é a linha divisória entre a legalidade e a ilegalidade, o bom senso e o desequlíbrio, a boa intenção ou a malandragem!

      • 1) Muitos de nós, que somos contra a presença da PM na USP, não apoia a maneira com que aqueles alunos tentavam atingir seus objetivos. Acho invadir a reitoiria um método ineficaz e contraditório (Já que se luta contra a violência e autoritarismo da PM como proposta de segurança, não faz sentido usar destes métodos para conseguir o que quer).

        No entanto, a PM não é, nem de longe, a melhor solução. É necessário o aumento e preparo da guarda universitária (sucateada), aumento da iluminação (abandonada) e da quantidade de ônibus circulares (pífios), a instalação de câmeras de segurança e, principalmente, repensar o projeto urbanístico da USP.

        Se a PM não funciona fora da USP, onde atua, cabe a nós propor novos programas de segurança; e não contentarmo-nos com um que, sabe-se bem, é precário.

        ——————————————
        2)
        O assunto na USP nunca foi a maconha. A prisão dos alunos com posse de maconha foi apenas o estopim. Os motivos da prisão poderiam ser inúmeros, a discussão e o descontentamento já existiam desde 2009, a greve\ocupação\manifestações teriam acontecido assim mesmo. Mas se você INSISTE em falar nisso, Realmente, precisamos TODOS estudar direito.

        http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/posse-de-maconha-nao-e-crime/

      • Caro Oduvaldo,
        sou estudante da USP, e gostaria de aclarar um pouco quais são os Eixos do movimento estudantil (eu mesma não sei se concordo com eles mas vou lhe explicar a visão do movimento)
        – Fora PM pelo fim do convênio entre a PM e a USP
        discorrerei sobre este eixo, pois aparentemente não está claro para você.
        Esse eixo surge na primeira assembléia após 3 estudantes da FFLCH terem sido levados à delegacia por porte de drogas (maconha). Questionou-se a presença da PM enquanto promotora de segurança visto que o ato de fumar, não seria perigoso, ainda que inegavelmente ILEGAL. A polícia vinha desde uma semana atrás revistando estudantes em alguns pontos da USP e no dia andara pela FFLCH dentro dos institutos revistando alunos e professores. O medo surgiu de que a PM serviria para restringir liberdades de manifestação política, como assembléias, atos de protesto, e outras ações que ocorrem dentro da cidade universitária que são contra o regimento da USP e contra a Lei como festas, dirigir bebado. A força punitiva da polícia foi repudiada na assembléia. A idéia é que a forma de atuação da PM que cumpre ordens e procedimentos punitivos e por vezes violentos seja na USP ou na cidade – e que não negamos ser ainda mais violento na cidade, nas periferias e em outras áreas de reintegração, uma das bandeiras do movimento é pelo fim da violência da PM- não combina com uma característica da Universidade que é a de livre pensamento e atuação, questionamento de leis, padrões sociais e paradigmas, e cujo objetivo maior seria sim o de sempre melhorar a sociedade.
        Questiona-se também se a USP enquanto autarquia de regime especial deve ter sua segurança patrimonial e pessoal garantido por um orgão de estado que é a PM e não por seu próprio orgão de segurança.
        Questiona-se também se o convenio da maneira como está colocado não desconsidera a opinião de alunos, professores e funcionários na construção de uma melhor convivência com a PM. (por exemplo o convenio afirma q todos os atos da PM devem ser relatados apenas ao gabinete do reitor, e “zonas de perigo” a serem mais vigiadas foram estabelecidas não se sabe como nem por quem)
        – Fora Rodas
        – Pelo fim dos processos administrativos e criminais de estudantes e funcionários por se manifestarem politicamente
        -Libertação de presos políticos
        – Plano de segurança alternativo à USP
        De maneira nenhuma os estudantes querem se sentir inseguros na USP eu moro próxima à USP e ando para casa todo dia, e não quero sofrer nenhum tipo de violência no caminho, venha de quem venha. Por isso defende-se um plano alternativo para o qual os estudantes ainda não tem resposta. Este tema já foi estudo de vários docentes da USP e apenas na faculdade de Urbanismo existem centenas de livros sobre esse plano de segurança e projeto urbanístico do campus. Os estudantes de arquitetura se reuniram com professores para iniciar pesquisas sobre o assunto. Admito que creio q a questão seja muito complexa, e talvez seria bom ter professores, alunos, e qualquer orgão de segurança a ser escolhido trabalhando nisso em conjunto.
        Se quiser mais alguma explanação sobre porque o Movimento estudantil defende esses eixos por favor se manifeste por aqui!

  13. Tem fotos que comprovem seus relatos? Talvez algum vídeo?
    Ou querem nos fazer engolir versões como a sua e a da Shayene sem sequer uma prova?
    Não sei de vc é estudante da ECA, a Shayene sei que é e envergonha a classe jornalística uma estudante de Comunicação Social ir fazer uma reportagem para o JC e não registrar uma única imagem dos absurdos que presenciou.

    Ah, parabéns por permitir comentários no seu texto. A imensa maioria dos sites e blogs que acessei que relatavam abusos por parte da PM não permitiam comentar.

    • Katarina

      Por mais que aparentem, uma foto e um vídeo (tanto quanto qualquer relato) não são provas, são um ponto-de-vista.

      Os textos “livres” do Leonardo e da Shayane, sem dúvida, devem estar recheados de motivações e opiniões. As fotos (escolhidas), os videos (escolhidos) e reportagens dos jornais, também.

      Não sei o que você quer dizer com “fazer engolir”. Todos temos DIREITO de contar o que supostamente vimos, com fotos ou não. Você só vai engolir o que você quiser engolir. Seja foto, vídeo, relato…

      • Errado, Danilo! Um vídeo, uma foto divulgada junto aos relatos daria crédito a quem conta os fatos. Internet é terra de ninguém, qualquer um escreve o que quer. Foram imagens de carros depredados, do arrombamento da reitoria, de cavaletes sendo jogados contra policiais que fizeram com que a população apoiasse a polícia. E foram imagens da reintegração da reitoria divulgadas em sites, blogs e passadas de mão em mão que contrariam totalmente o que os dois alunos estão relatando.
        Sim, eles tem o direito de contar o que supostamente viram e qualquer pessoa tem o direito de questionar, não?

        De qualquer forma ainda espero algo mais concreto do que simples palavras para me posicionar contra a reintegração da reitoria por parte da PM. Até pq eles estavam cumprindo um mandato judicial e os alunos sabiam que isso iria acontecer. Desde que provem com imagens (sim, eu tenho tendência a dar mais crédito a imagens que a palavras) os abusos que sofreram vou continuar achando que os policiais agiram dentro da lei e, como vivemos em um Estado de Direito, é isso o que importa.

  14. João Carlos, então você acha que só porque é autoridade você deve fechar os olhos e acatar? Alinar-se, sem questionar a realidade, os valores, a operação e a gestão dessa dessa autoridade? O ponto-chave das manifestações estudantis que vêm acontecendo é justamente este: criticar e relativizar o treinamento e a conduta da Polícia Militar, como bem colocou a Juliana. É claro que existem os usuários de drogas que pretendem dar continuidade ao “território livre” que é o campus, do mesmo jeito que existem aqueles com a mentalidade de luta contra a extinta ditadura. Porém, a todos aqueles que acham que se trata de mera rebeldia de baderneiros, saibam que a maioria das cabeças pensantes da USP que estão mobilizadas está contra a ideologia de universidade pública que está se instaurando, voltada à reprodução simplista de conhecimento, ao preenchimento de vagas no mercado de trabalho que as demanda e ao cerceamento da liberdade, da livre manifestação e do pensamento crítico. Há muito tempo esta luta não é mais pela causa da maconha. Para todos os que acham normal a atitude da PM relatada acima, que não têm medo de viatura e que não atravessam a rua quando avistam um grupo de policiais, esperem eles colocarem cocaína no seu carro, revistarem vocês gratuita e humilhantemente ou cercarem suas casas quando vocês estiverem indo pra aula para ver se a visão não muda…

  15. A tropa de choque não é uma tropa de negociação.
    O Objetivo do Choque, pasme, é evitar confronto justamente pela disparidade de forças. Sendo claro, o Choque com o lado de mais poder. Poder de contingente, poder bélico, poder psicológico.
    O uso ostensivo do aparato policial – gás, armas não letais – o número de policiais, o tamanho dos escudos, tudo isso compõem uma força de dominação territorial. E a Reitoria deveria ser desocupada. O que tornava a USP o território a ser do-mi-na-do. Lamentavelmente, CRUSP inclusive.
    E sim, o objetivo dessa força é evitar baixas em situações como essa. Sob o ponto de vista de seu objetivo, não podemos negar: a operação foi bem sucedida.

    Como cidadã, me solidarizo com todos os prejudicados indiretamente ou diretamente na ação policial. Acredito que as pessoas ali não estavam cientes da função do Choque.

    Não, não acredito que seja a PM a culpada. Porque? Porque na desocupação dos alunos, a PM fez o que deve fazer: sobrepujar o ato criminoso. Fazer-se superior, seja em número, seja em aparato, e evitar baixas.
    São culpados os alunos? Depende. A ocupação é um ato ilegal, e desobedecer à uma ordem judicial é crime. Sob esse aspecto, os alunos ao permanecerem na Reitoria estavam cientes das consequencias de seus atos. Embora talvez não tivessem ciência completa do que seriam essas tais “consequencias”. E digo um talvez bem grande aqui.

    A PM é perfeita? Na minha opinião, não. A PM é uma instituição do Estado. Apesar de vivermos em uma democracia, é notória a incapacidade de nosso Estado ser eficaz nos seus mais básicos elementos: Saúde, Educação e Segurança.

    A PM na USP é o ideal? Ignoro. O ideal é composto de idéias baseadas numa premissa de perfeição. Não trabalho com essa premissa.

    Minha opinião sobre o que realmente triunfou nesse conflito: a intolerância.
    Intolerância de estudantes que bradaram FORA PM, esquecendo que a mesma PM que os aborda truculentamente a diário dentro da Universidade possui Corregedoria. E que diferentemente dos bandidos assassinos e covardes que a PM combate, a PM tem uma polícia.
    Intolerância de ambas partes que negociaram um “acordo pacífico” para desocupação da FFLCH antes, e da Reitoria após.
    Enfim, tentando combater a truculência da PM, os alunos foram truculentos. Ai meu amigo, perderam a briga. Porque a maior força do estudante é o intelecto. E quando se começa a invadir prédios justamente após um episódio de prisão de estudantes por posse de entorpecentes não se pode dizer que o carro chefe do movimento foi o intelecto. Porque até uma morsa sabe a capacidade de manipulação da mídia. E uma morsa esperta usaria esse aparato a seu favor.

    Uma vez mais, solidarizo com o sofrimento dos que passaram por momentos imagino que apavorantes. E desejo que a paz seja instaurada novamente na USP. Uma paz inteligente, que não demonize alunos ou policiais. A paz que apenas a tolerância, fruto do entendimento, e não da obediência cega, pode trazer.

  16. Parece que essa história vendida pela mídia de que os estudantes estão protestando contra a PM para poder fumar maconha sem problemas colou mesmo. A tentativa de deslegitimar a mobilização colou. Aliás, não é muito difícil, tenho a impressão que a tendência da população em geral é ser contra a qualquer tipo de manifestação popular. Conservadorismo a todo custo, inclusive a custo de liberdades, é o que impera. Onde isso pode acabar? Sabemos bem, nossa história de menos de 50 anos atrás nos conta.
    Isto me impressiona porque qualquer busca simples por leituras a respeito dos acontecimentos (não precisa ir para os blogs “sujos”, está no Estadão, olha lá) mostraria que há relatos de abusos cometidos pela PM dentro do campus, revistas sem motivos a qualquer hora, por exemplo. Isso é ilegal, trata-se de abuso de poder, art. 244 do Código de Processo Penal. É questionando essa conduta que é generalizada na PM que os estudantes protestam e pedem que a PM se retire do campus. Não se trata de pedir tratamento diferenciado, esse questionamento é válido e talvez ainda mais necessário fora do campus, nos lugares mais pobres e distantes da nossa cidade, onde a conseqüência dos desmandos da PM resulta em mortes, inúmeras.
    O que me choca é o gosto que a população tem pela repressão em geral. Assistem às forças estatais atuando ilegalmente e não se dão conta de que uma hora estes braços sem freios chegarão até eles. Ou quem sabe já chegaram e eles desejam que todos sofram o mesmo. Como se vê a cultura autoritária ainda domina a nossa sociedade e este é só mais um episódio a demonstrar que estamos muito longe da tão badalada transição democrática.

  17. isso está fugindo da sua finalidade, infelizmente os policiais fazem o que querem nesse país e aceitemos ou não, irão continuar fazendo, eles se drogam, abusam do poder, matam, atiram, dirigem embriagados, falam no celular dirigindo, atravessam todo e qualquer semaforo, atingem altas velocidades e isso sem nenhuma comprovação de que irão defender a população e ao se analisar os indices de violencia e de mortes, vemos que eles realmente não estavam indo trabalhar; como todos sabem disso, e por incrivel que pareça, apenas a minoria se mobiliza enquanto a grande massa alienada fica criticando vorazmente tais revolucionários, só temos que trabalhar, conquistar algum dinheiro e fugir desse país, talvez um dia quando os jovens (motores da economia) sairem desse lixo de Brasil, vocês percebam que somos importante, e aí sim, nossas reivindicações de justiça e liberdade serão levadas a sério.

  18. Desculpem vcs, mas eu perguntou porque nenhuma universidade do mundo tem intervenção militar, e só acontece em estados de excepção?, e não se pode falar que este é um caso desses, já que ocupações do tipo aconteceram e acontecem, e em pleno dialogo, se solta um artigo que fala que não vai ter reintegração de posse, táctica do estado? porque depredação do espaço público, quando é inconcebível que um estudante do movimento vai estragar uma impressora, ou um computador ou um sofa, e onde vai imprimir os panfletos, onde vai dormir se não tem sequer um sofa? e cadê os R$ 36000 que nosso senho reitor vai gastar em um tapete -o custo das fianças dos pressos-? então pagamos seu tapete ou comprara 2 agora com o desvio de fundos públicos? e o espaço verde de 1300 arvores que vai tirar para pôr um museu? lhe perguntaram isso a vcs? acaso o Brasil é um país diferente e único? porque a decisão da Reitoria de IMPÔR a PM -que é militar- e não a policia civil como medida e como minimo? porque a polícia civil se esta reduzindo e aumentando a PM? porque pulou esses condutos regulares? porque um estudante fardado aparece na assembleia de Biologia ostentando sua arma e amedrentando o público? não podem me dizer que militar é uma palavra só. Porque para Rochina em RJ usaram 2000 policiais para 63000 habitantes e para a reitoria usaram 400 policiais para 72 estudantes que NÃO tem que ver com mafias chinesas, japonesas, russas e as FARC como disseram as “elegantes” damas da elite paulista? Porque jogar gás lacrimogênio nos corredores do CRUSP e maltratar a estudantes que filmaram a reintegração, entre as quais arrestaram uma, mas a Globo já estava no local no momento? porque falaram nesses jornais que nem uma bala de borracha nem uma lata de gás foi jogada? acaso o CRUSP é considerado a favela da USP? se é assim, cadê os meninos fofinhos maconheiros, filhos de pai e mai que falam nos jornais? acaso não estamos num estado de choque como Naomi Klein comenta? o é que a juventude do Brasil atua isoladamente e são baderneiros, mas se é uma ocupação em Harvard -como esta aconteciendo- ou protestos em Barcelona e Inglaterra aí se olhamos com alegria e falamos enchendo nossa boca com palavras decoradas que tudo vai mudar, mas aqui não? esperamos soluções de fora num pensamento ainda colonialista? acaso esqueceram que o CRUSP nasceu de ocupações e sem elas vcs e eu não teríamos a oportunidade de morar de “graça”? como se não fora suficiente a marginalização que a mesma USP mantem com o CRUSP, e como se nós Cruspianos não estudáramos nem conhecêramos mais profundamente a realidade de esta Universidade na que moramos quase o tempo tudo?

  19. Ótimo texto, Leo. A revolta dos moradores do Crusp não se dirige somente à operação, megalomaníaca e imprudente, de reintegração de posse promovida pela polícia. Ela dirige-se também, e sobretudo, contra o crime de cárcere privado( pois esse foi o crime a que foram submetidos os moradores do Crusp) perpetrado pelo próprio Estado, isto é, atitude típica de regimes totalitários. A ação (ilegal) da tropa de choque no Crusp, nas periferias , baseia-se e resume-se num dístico tenebroso: ” A culpa é sempre indubitável”. Fora PM!!!

  20. E muito bom poder ler relatos feitos por quem vivenciou determinada situacao. A populacao brasileira e muito intrigante em termos morais. Acho que podemos dizer que existe uma ambiguidade moral no Brasil. Essa ambiguidade se refere em muitos casos em como a midia ira expor os fatos a sociedade. Outra parte dessa ambiguidade se refere a como nos vemos nossa realidade, como nos aceitamos certas coisas de um modo e ao mesmo tempo as recusamos de outro. Em geral a sociedade nao tem uma opiniao concreta sobre nada. Dessa forma, midia tem livre acesso para julgar a situcao, obviamente eles optarao pelas maneiras mais lucrativas, ou seja aquelas que conquistarao a mente do povo. Entao neste especifico caso, nos temos: USP, classe media, maconha, policia. Esses assuntos sozinhos nao vendem noticia, mas assim misturados e um prato cheio. Estudantes fumando maconha… coisa rara! Imagina se a PM comecar a invadir todos os lugares onde atividades ilicitas involvendo narcoticos sao realizadas. Hum, quem ira escapar?

  21. Pingback: A universidade e a polícia que não queremos « Boca Livre S.A.

  22. Pingback: A universidade e a polícia que não queremos

  23. CRUSP É DIFERENTE DA REITORIA. O CERCO FEITO A CRUSP NAO FOI O MESMO FEITO A REITORIA. AS IMAGENS VEICULADAS NA DESOCUPACAO NA REITORIA, NADA TEM HAVER COM OS RELATOS ACIMA. SEJAM NO MÍNIMO COERENTES, SE ACHAM QUE DEVERIA SE DESOCUPAR A REITORIA, PQ ACHAM QUE SE DEVERIA TB SITIAR A CRUSP(MORADIA ESTUDANTIL) NO MESMO MOMENTO!?

Deixar mensagem para João Carlos Cancelar resposta